A PESQUISA SONORA E MATERIAIS DE QUALIDADE
Por: Marcel Abramo e Thaís Xavier (publicado na revista CenárioMusical em 2006)
Quando um educador ensina música está estimulando muitos campos do conhecimento em seus alunos, o movimento e a coordenação psicomotora, aspectos visuais e táteis, o raciocínio lógico-matemático, a oralidade e a escrita, identidade e autonomia e o senso crítico para as artes em geral.
Quando um musicoterapeuta utiliza os instrumentos está possibilitando a abertura de canais de comunicação, permitindo aos pacientes expressarem suas emoções mais profundas e íntimas.
Embora esses dois profissionais utilizem a música com objetivos diferentes enfrentam problemas comuns. É freqüente, em nosso meio, a queixa de instrumentos pouco resistentes, de baixa qualidade timbrística, de pouca intensidade e prolongamento do som, que não sustentam a afinação. Temos dificuldade de encontrar boas marcas e o trabalho de um luthier é muitas vezes impagável. Sabemos que os recursos financeiros disponibilizados pelas instituições e escolas tornam mais difícil a aquisição de materiais de qualidade e em alguns casos é exigido que o próprio profissional busque seus recursos. A saída então é construir instrumentos – recurso fácil e barato.
A construção de instrumentos com sucata é importante por estimular a criatividade, valorizar a reciclagem cuidando do meio ambiente, compreender a física do som e permitir a alunos e pacientes elaborarem suas próprias esculturas sonoras. Entretanto a presença da música desde a gestação e por toda a vida situa e integra o ser em seu meio, auxilia o desenvolvimento neuropsicomotor, permite o auto-conhecimento e resgata a memória. Sendo a música tão importante para o desenvolvimento físico, intelectual e espiritual, por manter viva a nossa história e por desenvolver uma acuidade auditiva e uma crítica musical, torna a escolha dos materiais e instrumentos em nossa prática, uma questão de responsabilidade e respeito à sociedade e ao ser humano como um todo.
Quando se trabalha com construção de instrumentos a escolha do material tem que ser cuidadosa. Deve-se pesquisar materiais que correspondam aos parâmetros sonoros, avaliar a durabilidade e a densidade do material escolhido e a possibilidade de trabalhar a sua superfície (desbastar, amassar, aquecer, esticar e afrouxar) para conseguir uma afinação. E não podemos nos acomodar nas dificuldades. É necessário brigar pela liberação de verba, mostrando as necessidades e benefícios para atingirmos os nossos objetivos. É preciso ter consciência e recurso para desenvolver todas as potencialidades musicais de nossos alunos e obter sucesso nas práticas terapêuticas. Cabe a você, profissional, a reflexão nos objetivos do seu trabalho e naquilo que você utiliza para desempenhá-lo bem.
